O Comitê Brasileiro de Túneis e Espaços Subterrâneos (CBT), comitê da ABMS dedicado a projetos e obras subterrâneas, comemorou em 4 de dezembro de 2025 seus 35 anos de atividades durante a edição anual do Tunnel Day – evento instituído pela ITA e reconhecido pela ONU como o dia internacional dedicado à engenharia de túneis.

Helvio Falleiros
Um dos pontos altos da programação foi a mesa “CBT 35 anos. Resgate da História / Visão de Futuro”, que reuniu, pela primeira vez, quase todos os presidentes que conduziram o Comitê desde sua criação. O encontro foi coordenado pelo jornalista Helvio Falleiros, diretor da Strada Comunicação, responsável pela área de comunicação do CBT.
Participaram do debate os ex-presidentes Sergio Fontoura, Argimiro Ferreira, André Assis, Akira Koshima, Tarcísio Barreto Celestino, Hugo Cássio Rocha, Werner Bilfinger, Daniela Garroux e o atual presidente Jean-Pierre Ciriades. O único ausente foi Jairo Pascoal Júnior, impossibilitado de comparecer.
Sem destacar gestões específicas, a proposta da mesa foi construir uma retrospectiva coletiva das três décadas e meia do Comitê, ressaltando fatos, conquistas e a evolução da comunidade tuneleira brasileira.
O painel destacou uma marca rara no cenário mundial. Ao longo de sua história, o Brasil conseguiu eleger dois presidentes da ITA, a Associação Internacional de Túneis e do Espaço Subterrâneo. André Assis presidiu a ITA de 2001 a 2004. E Tarcísio Barreto Celestino de 2016 a 2019.

André Assis (2002) e Tarcisio Barreto Celestino (2016)
Entre os 81 países que integram a entidade, apenas o Reino Unido, com três presidentes, supera o desempenho brasileiro. Estados Unidos, Alemanha e Itália também tiveram dois presidentes cada — posição que coloca o Brasil no seleto núcleo de maior representatividade na ITA .
Outra conquista lembrada foi a realização, no país, de dois World Tunnel Congress (WTC) — em São Paulo (1998) e em Foz do Iguaçu (2014). Apenas quatro países sediaram três edições do congresso (Noruega, Reino Unido, EUA e Itália). Somam-se ao Brasil, com duas edições cada, apenas Austrália, Países Baixos, China e Alemanha.
As conversas com os presidentes mostraram que esses resultados não aconteceram por acaso. Houve consenso entre eles de que a combinação entre capacidade técnica reconhecida internacionalmente, postura diplomática, cordialidade no relacionamento com a comunidade internacional e a hospitalidade brasileira foi decisiva para consolidar a imagem positiva do CBT no exterior.
Questionados sobre o que explica a ascensão brasileira dentro da ITA, os ex-presidentes foram unânimes ao destacar o comportamento da delegação brasileira ao longo dos anos.
O Brasil, afirmaram, nunca teve atritos com outros países-membros, sempre manteve relações construtivas e cultivou um ambiente de confiança. Essa atitude favoreceu tanto a escolha do país como sede de congressos quanto a eleição de profissionais brasileiros para cargos de liderança.
Ao lado da postura institucional, a qualidade técnica dos engenheiros brasileiros foi apontada como elemento central das vitórias obtidas. Diversos ex-presidentes destacaram que colegas de várias partes do mundo reconhecem o domínio técnico e a criatividade da engenharia nacional — atributos que se refletem em projetos, publicações e participações em grupos de trabalho da ITA.
A forma acolhedora e gentil de receber visitantes estrangeiros, característica frequentemente associada aos brasileiros, também apareceu como fator diferenciador, ajudando a criar boas experiências e fortalecer vínculos com a comunidade internacional.

Livro Túneis do Brasil
No plano interno, a mesa recuperou as principais iniciativas que consolidaram o CBT como o centro de referência da indústria tuneleira no país. Ao longo de 35 anos, o Comitê organizou seis Congressos Brasileiros de Túneis, que se transformaram em espaço privilegiado de debate técnico, atualização profissional e integração de empresas, projetistas, consultores, pesquisadores e estudantes.
Outro destaque foi o livro “Túneis do Brasil”, lançado em 2006. A publicação reúne imagens, dados históricos e descrições técnicas dos principais túneis já construídos no país. O volume, fruto da colaboração de profissionais de diversas regiões, tornou-se obra de referência no setor. A história da produção do livro — descrita em detalhes na apresentação de Akira Koshima, então presidente do CBT — remete ao envolvimento de importantes nomes da engenharia e ao apoio de empresas e instituições.
Os relatos dos ex-presidentes mostraram que a história do CBT foi construída sobre uma base de cooperação e espírito coletivo. Conversas, candidaturas, viagens internacionais, articulações institucionais, desafios operacionais e até episódios curiosos — como negociações de última hora, visitas marcantes ou votações acirradas na ITA — revelam um Comitê pequeno em tamanho, mas grande em coesão, dedicação e capacidade de mobilização.
O painel também ressaltou figuras centrais da trajetória do CBT, como Eda Quadros, que presidiu a ISRM e teve atuação decisiva na integração entre as entidades técnicas, e Richard Bieniawski, homenageado no WTC 2014 e lembrado com emoção pelos participantes.

Jean-Pierre Ciriades, presidente do CBT
A parte final da mesa “Resgate da História / Visão de Futuro” coube ao presidente do CBT, Jean-Pierre Ciriades. Ele projetou os próximos passos da comunidade tuneleira brasileira. O consenso entre os participantes é de que o país vive um momento promissor, com múltiplos projetos de infraestrutura, expansão da malha metroviária e crescente valorização das soluções subterrâneas como alternativa econômica, ambiental e urbanística.
O presidente do CBT anunciou também a realização em 2026 de um curso de pós-graduação em engenharia de túneis, de nível internacional, resultado de parceria entre o CBT e a Universidade IPT. Em breve, o CBT dará mais informações sobre este curso.
O Tunnel Day 2025 deixou evidente que a preservação da memória do CBT não é apenas um gesto retrospectivo: é uma estratégia de fortalecimento institucional. O resgate das histórias, conquistas e desafios vividos ao longo de 35 anos ajuda a projetar um futuro mais sólido, reforça a identidade coletiva da comunidade tuneleira e inspira as novas gerações de profissionais que chegam ao setor.
A reunião histórica dos presidentes mostrou que o CBT construiu muito — e que ainda há muito por construir. O passado, afirmaram alguns ex-dirigentes, é combustível para seguir adiante. Ou, como sintetizou um dos participantes, citando uma expressão lembrada no encontro: “O que importa é a integral, não a derivada.” Ou seja, vale mais o filme completo do que o fotograma, o momento presente.
(Fotos: Bruno Cavalcanti)
Período |
Nome |
País |
1974–1977 |
Allan Muir Wood |
Reino Unido |
1977–1980 |
Hans Ficher |
Suécia |
1980–1983 |
Gunter Girnau |
Alemanha |
1983–1986 |
Jack Lemman |
Estados Unidos da América |
1986–1989 |
Einar Broch |
Noruega |
1989–1992 |
Colin Kirkland |
Reino Unido |
1992–1995 |
Dan Eisenstein |
Canadá |
1995–1998 |
Sebastiano Pelizza |
Itália |
1998–2001 |
Alfred Haack |
Alemanha |
2001–2004 |
André Assis |
Brasil |
2004–2007 |
Harvey Parker |
Estados Unidos da América |
2007–2010 |
Martin Knights |
Reino Unido |
2010–2013 |
In-Mo Lee |
Coreia do Sul |
2013–2016 |
Soren Eskesen |
Dinamarca |
2016–2019 |
Tarcísio Celestino |
Brasil |
2019–2022 |
Jenny Yan |
China |
2022–2025 |
Arnould Dix |
Austrália |
2025–… |
Andrea Pigorini |
Itália |
TOTAL |
18 Presidentes |
Reino Unido |
3 |
EUA |
2 |
Alemanha |
2 |
Itália |
2 |
Brasil |
2 |
Noruega |
3 |
Reino Unido |
3 |
EUA |
3 |
Itália |
3 |
Austrália |
2 |
Países Baixos |
2 |
China |
2 |
Alemanha |
2 |
Brasil |
2 |
81 países Membros |
51 congressos |
WTC |
Ano |
Cidade |
País |
1º WTC |
1974 |
Oslo |
Noruega |
2º WTC |
1975 |
Munique |
Alemanha |
3º WTC |
1976 |
Londres |
Reino Unido |
4º WTC |
1977 |
Estocolmo |
Suécia |
5º WTC |
1978 |
Tokio |
Japão |
6º WTC |
1979 |
Atlanta |
EUA |
7º WTC |
1980 |
Bruxelas |
Bélgica |
8º WTC |
1981 |
Nice |
França |
9º WTC |
1982 |
Brighton |
Reino Unido |
10º WTC |
1983 |
Varsóvia |
Polônia |
11º WTC |
1984 |
Caracas |
Venezuela |
12º WTC |
1985 |
Praga |
Checoslováquia |
13º WTC |
1986 |
Florença |
Itália |
14º WTC |
1987 |
Melbourne |
Austrália |
15º WTC |
1988 |
Madri |
Espanha |
16º WTC |
1989 |
Toronto |
Canadá |
17º WTC |
1990 |
Chengdu |
China |
18º WTC |
1991 |
Londres |
Reino Unido |
19º WTC |
1992 |
Acapulco |
México |
20º WTC |
1993 |
Amsterdam |
Países Baixos |
21º WTC |
1994 |
Cairo |
Egito |
22º WTC |
1995 |
Stuttgart |
Alemanha |
23º WTC |
1996 |
Washington |
EUA |
24º WTC |
1997 |
Viena |
Áustria |
25º WTC |
1998 |
São Paulo |
Brasil |
26º WTC |
1999 |
Oslo |
Noruega |
27º WTC |
2000 |
Durban |
África do Sul |
28º WTC |
2001 |
Milão |
Itália |
29º WTC |
2002 |
Sydney |
Austrália |
30º WTC |
2003 |
Amsterdam |
Países Baixos |
31º WTC |
2004 |
Singapura |
Singapura |
32º WTC |
2005 |
Istambul |
Turquia |
33º WTC |
2006 |
Seul |
Coreia do Sul |
34º WTC |
2007 |
Praga |
República Tcheca |
35º WTC |
2008 |
Agra |
Índia |
36º WTC |
2009 |
Budapest |
Hungria |
37º WTC |
2010 |
Vancouver |
Canadá |
38º WTC |
2011 |
Hensinque |
Finlândia |
39º WTC |
2012 |
Bangkok |
Tailândia |
40º WTC |
2013 |
Genebra |
Suíça |
41º WTC |
2014 |
Foz do Iguaçu |
Brasil |
42º WTC |
2015 |
Dubrovnic |
Croácia |
43º WTC |
2016 |
São Francisco |
EUA |
44º WTC |
2017 |
Bergen |
Noruega |
45º WTC |
2018 |
Dubai |
Emirados Árabes |
46º WTC |
2019 |
Nápoles |
Itália |
47º WTC |
2020 |
Kuala Lumpur |
Malásia |
48º WTC |
2022 |
Copenhague |
Dinamarca |
49º WTC |
2023 |
Atenas |
Grécia |
50º WTC |
2024 |
Shenzhen |
China |
51º WTC |
2025 |
Estocolmo |
Suécia |

