Não há hoje no mundo dados confiáveis sobre o número de mulheres que atuam no segmento de obras subterrâneas. A presença de mulheres ainda é pouco expressiva do ponto de vista quantitativo. Para ajudar a superar essa realidade e dar mais visibilidade ao trabalho feminino nas obras subterrâneas, a geóloga Daniela Garroux, tesoureira do CBT, está organizando a mesa-redonda Mulheres na área de escavações subterrâneas, marcada para o dia 25/3, às 19h, no canal do CBT no YouTube.
“Há anos vou aos congressos e observo que o número de mulheres presentes é sempre muito baixo, entre 5% e 10% do total”, conta Daniela Garroux. “Tentei buscar dados da participação feminina em obras subterrâneas pelo mundo. Esses dados simplesmente não existem. Estou, agora, tentando fazer um levantamento junto aos colegas do Brasil e de outros países para ver se conseguimos pelo menos uma estimativa”.
Diante de tudo isso, surgiu a ideia de reunir mulheres que atuam na área de escavações subterrâneas para debater a presença feminina num ambiente ainda marcadamente masculino.
“Queremos ouvir dessas mulheres os desafios que já enfrentaram no ambiente de trabalho por serem mulheres”, explica Garroux. “O objetivo é mostrar que nós devemos estar em igualdade de condições com os homens também nessa área da indústria. Espero que tenhamos muitos homens assistindo ao debate. É uma ótima oportunidade para que eles percebam como podem colaborar para que, cada vez mais, a igualdade de gênero chegue ao nosso setor”.
Na mesa-redonda, Daniela Garroux será a mediadora e as convidadas serão:
Danieli Ferreira, engenheira geotécnica da Vale
Magali Gurgueira, geóloga projetista e consultora da MaisGeo/CJC
Maria Beatriz Hopf Fernandes, presidente da EBEI
Maria Cecília Guazzelli, consultora da MCG Consultoria e Projetos
Maria Clara Barros, gerente de engenharia da Engetec
Loly Rodriguez, coordenadora de produção, Acciona – Metrô de Quito (futuramente Linha 6 SP)
Paula Maia, coordenadora de anteprojeto civil e traçado do Metrô de São Paulo
“As mulheres tuneleiras já começam em um patamar abaixo”, ressalta a geóloga. “Temos de fazer muito mais do que os colegas para provar a nossa capacidade”
Hoje respeitada no setor de túneis, Daniela conta que, para chegar onde está, teve de ‘ralar’ muito. “Fiz doutorado no exterior com professores renomados, trabalhei na Herrenknecht, tenho inglês e espanhol fluentes, falo alemão, escrevi capítulo de livro, publico artigos frequentemente. Se não fosse tudo isso, eu certamente não estaria onde estou. As mulheres não têm as mesmas oportunidades que os homens nas obras subterrâneas”.
Durante sua carreira, Garroux passou por situações marcantes e algumas até cômicas. “Lembro de uma vez quando comecei a trabalhar em uma mina subterrânea e, quando fui pegar o EPI, o menor sapato que tinha era tamanho 40. Eu calço 35. Lá fui eu andar na lama com um sapato enorme. O colega que estava comigo teve de me ajudar durante todo o percurso para que minha bota não ficasse para trás. Nessa época, eu era a única mulher descendo na mina. Todos paravam para me olhar”, relembra rindo.
Quando trabalhou com vendas, por diversas vezes, ao invés de questionar sobre o produto, os homens flertavam com ela e esta postura só mudava quando percebiam que ela era capacitada tecnicamente.
“As mulheres tuneleiras já começam em um patamar abaixo. Temos de fazer muito mais do que os colegas para provar a nossa capacidade”
Garroux já esteve também do outro lado do balcão e percebeu as qualidades da mulher tuneleira. Quando trabalhou no Metrô de São Paulo, ela era o cliente e analisava projetos. “Algo interessante que eu observei é que os projetos desenhados por mulheres eram aprovados na primeira ou segunda revisão. Aqueles desenhados por homens precisavam de quatro ou cinco revisões até a aprovação. Elas eram mais cuidadosas com os detalhes”.
“É essa experiência, minha e de outras mulheres, que eu quero passar com essa mesa-redonda. Quero que as mulheres que estão começando agora saibam que é preciso ser forte, mas quero incentivá-las a não desistir. E, principalmente, quero que os homens passem a questionar a sua postura diante das mulheres tuneleiras”.