O engenheiro Harvey Parker faleceu em 5 de maio de 2020, aos 83 anos, após dois anos de luta contra o câncer.
Nascido no Panamá, Parker passou parte da sua infância na Argentina e concluiu os últimos anos de estudos nos Estados Unidos, onde viveu desde então. Ele foi um dos maiores nomes da engenharia de túneis em todo o mundo. Formou-se em engenharia civil pela Universidade de Auburn, no Alabama, era mestre em engenharia geotécnica pela Universidade de Harvard e PhD pela Universidade de Illinois. “Acima de um grande profissional, Harvey era um ser humano raro”, define Tarcísio Barreto Celestino, ex-presidente do CBT e da ITA e amigo de Parker.
Atencioso, prestativo, generoso, otimista, dedicado, simpático. Esses são alguns dos adjetivos que definem Harvey Parker, de acordo com quem o conheceu. “Se procurarmos em toda a ITA, não acharemos ninguém que já tenha tido algum descontentamento com ele”, ressalta Celestino.
Werner Bilfinger, que presidiu o CBT entre 2017 e 2018, lembra de quando conheceu Harvey Parker pessoalmente. Foi em Bergen, na Noruega, durante o Congresso Mundial de Túneis (WTC) de 2017. “Estava saindo do hotel para ir a um dos eventos da ITA e ele me viu no lobby. Olhou o meu crachá, talvez tenha lembrado do meu nome de alguma reunião, e começamos a conversar como se fôssemos velhos amigos. Caminhamos juntos por cerca de 20 minutos até o local do evento. Falamos sobre túneis, nossos países, famílias, amigos. Aquela caminhada me marcou”, lembra. “No ano seguinte, no WTC 2018, nos reencontramos e tive mais uma vez a oportunidade de estar com ele. Lembramos juntos daquela caminhada em Bergen, conversamos novamente sobre as famílias, a ITA e o calor de Dubai. Sentirei falta daquelas conversas”.
Para Hugo Rocha, presidente do CBT de 2011 a 2014, o traço mais marcante da personalidade de Parker era a simpatia. “Embora não tivéssemos um contato tão próximo, ele mandava cartão de Natal todo ano. Sempre muito atencioso”, recorda.
Em sua carreira, Parker estava sempre em busca de novos conhecimentos. Orgulhava-se de ter obtido uma graduação a cada década de vida. Engenheiro, mestre e doutor.
E todo o conhecimento que adquiria era sempre compartilhado com todos que podia. Escrevia artigos que ficavam disponíveis para qualquer um que precisasse, estava sempre disposto a colaborar nas discussões. “Lembro-me de um episódio em que a generosidade e a disponibilidade de Harvey ficaram evidentes mais uma vez”, conta Tarcísio. “Estávamos agendando uma teleconferência com pessoas de diferentes países e, devido à diferença de fuso horário, para Parker, a conferência seria às 5 horas da manhã. Tentei reagendar para que não ficasse tão cedo para ele, que já tinha certa idade. Ele me impediu de fazer qualquer alteração e disse que estaria à disposição naquele horário. E ali estava ele, pronto para compartilhar todo o seu conhecimento, às 5 da manhã”.
Harvey Parker foi um grande defensor da investigação geológica na escavação de túneis. Hugo Rocha ressalta que sempre cita Parker nos cursos que ministra. Parker sugere, por exemplo, o número de sondagens a serem feitas por metro de túneis, conforme lembra Argimiro Ferreira, ex-presidente do CBT.
“O Metrô de São Paulo (onde Hugo atua como geólogo) sempre investiu muito em investigação”, destaca. “As publicações dele nos ajudaram a justificar esses custos e comprovar a importância da sondagem”.
O engenheiro estudava não apenas a investigação geológica. Na verdade, sua gama de conhecimento era bastante ampla. “A tese de Doutorado de Harvey Parker é a bíblia moderna do concreto projetado com fibras”, afirma Celestino. “Ele era um expoente também em práticas contratuais em obras subterrâneas”.
Harvey Parker teve um papel de destaque na disseminação da cultura e dos conceitos dos túneis. Uma das suas grandes atuações na ITA, entidade que presidiu, foi junto à Organização das Nações Unidas. Ele era o responsável por levar à ONU sugestões de medidas para a utilização de túneis visando a melhoria de vida da população. “Era o grande defensor do que a ITA acredita e dissemina até hoje: explorar o subterrâneo para preservar a superfície para fins mais nobres em benefício da sociedade”, afirma André Assis.
Foi dele a sugestão de mudar o nome da ITA de International Tunnelling Association para International Tunnelling and Underground Space Association para destacar a importância do subterrâneo para todo o desenvolvimento sustentável.
Parker foi um grande apoiador da comunidade brasileira de túneis. Em 1995, quando o Brasil conquistou a oportunidade de organizar o primeiro Congresso Mundial de Túneis no país, ele participou de reuniões e nunca escondeu o seu apoio ao país. “O apoio dele naquela época foi fundamental para o CBT”, afirma Sergio Fontoura, presidente do Comitê de 1991 a 1994. “O CBT estava no início e ter o apoio de alguém tão respeitado nos deu força diante da comunidade tuneleira internacional”.
Em 1998, quando o CBT organizou o Congresso Mundial de Túneis da ITA, aconteceu no país uma reunião especial do Conselho Executivo da ITA para tratar do plano estratégico da associação. “Parker não fazia parte do Conselho oficial, era membro ad-hoc e, portanto, não estava na lista de convidados para aquela reunião”, lembra Assis. “Certo dia, recebi um e-mail dele com a indicação de que viria ao Brasil para o congresso e que queria participar daquele encontro. Foi uma honra tê-lo conosco. E aquela foi apenas a primeira de muitas vezes. Ele vinha ao país sempre que era convidado, aceitava todos os nossos convites com muito carinho”.
“Parker sempre prestigiou os nossos eventos e sempre foi muito solícito com qualquer pedido do CBT”, corrobora Akira Koshima, ex-presidente do Comitê Brasileiro de Túneis.
Em 2019, Harvey Parker recebeu o Prêmio ITA Lifetime Achievement, que destaca o profissional pelo conjunto da carreira dedicada à engenharia de túneis. Tarcísio Celestino foi o responsável por entregar o prêmio ao homenageado. “Foi uma honra e uma satisfação muito grande. Embora este papel seja geralmente exercido pelo presidente da entidade, coube a mim entregar o prêmio a ele, devido ao forte vínculo que tínhamos”, lembra.
“Esta noite, Brunel está em paz sabendo que seu busto estará em boas mãos”, afirmou Celestino no discurso de entrega do prêmio. Isambard Kingdom Brunel foi um engenheiro civil e mecânico inglês reconhecido como um dos grandes nomes da engenharia na história. A ITA escolheu o busto de Brunel para representar todos os prêmios da entidade. Acesse aqui o discurso completo de Tarcísio na entrega do prêmio ITA Lifetime Achievement a Harvey Parker.
“E ele encerrou a vida da mesma forma que sempre viveu, com muito carinho e um cuidado sem igual. Dias antes de falecer, Harvey me enviou uma mensagem de despedida, agradecendo pela amizade ao longo dos anos”, conta, emocionado, Tarcísio Barreto Celestino.
“Harvey Parker é um exemplo a ser seguido”, conclui Jairo Pascoal Júnior, presidente do CBT.
Harvey Parker deixa a esposa e dois filhos. O Comitê Brasileiro de Túneis presta as mais sinceras condolências aos familiares e amigos. E agradece ao engenheiro pelo legado que deixa à comunidade tuneleira e à humanidade.
Visite o site criado pela família para que amigos pudessem contar suas lembranças com Harvey Parker.
Assista ao vídeo elaborado pela ITA em homenagem a Harvey Parker.