Desde a manhã de segunda- feira, dia 3, São Paulo é palco da discussão sobre o futuro da engenharia brasileira e das obras subterrâneas pós – crise, num dos maiores eventos da engenharia subterrânea da América Latina: o 4º CBT – Congresso Brasileiro de Túneis e que vai até o dia 5, quarta, no Centro de Exposições Rebouças. Com a presença de centenas de engenheiros, geólogos, especialistas, professores, técnicos do setor, brasileiros e estrangeiros, o evento mobiliza não só pelo seu aspecto técnico e científico, mas principalmente por trazer para a pauta soluções para recuperação da credibilidade da engenharia e da infraestrutura, hoje mergulhadas na crise econômica e protagonistas de denúncias que estagnaram os investimentos no setor.
Na abertura, o presidente da ITA – Internacional Tunneling Association, a mais importante entidade do setor no mundo, Tarcísio B. Celestino, alertou para o fato de que “não é porque o Brasil teve problemas e parou de comer carne que toda a população vai simplesmente parar de se alimentar. Assim como as obras de infraestrutura não podem parar porque existem investigações em curso, por mais prioritárias que sejam estas investigações sejam – como de fato são. O país não pode simplesmente estagnar sua infraestrutura por tempo indeterminado. O prejuízo de obra parada, especialmente as subterrâneas, podem ser irrecuperáveis.”
As oportunidades existem e dependem obviamente de políticas corretas de desenvolvimento que o país precisa adotar . Cito um exemplo: a duplicação da Rodovia Regis Bittencourt que começou na década de 70, portanto há 40 anos e até hoje não se concluiu porque tomou-se a decisão errada de fazer toda a duplicação em superfície”
Falta de investimento e valorização de projetos
O professor titular da Universidade de Brasília e ex- presidente do CBT e da ABMS, eng. André Pacheco de Assis, ao ministrar a palestra de abertura do congresso foi contundente ao afirmar que um dos principais problemas a contribuir para que a corrupção ocupasse o âmago da engenharia brasileira, está na falta de investimento e valorização dos projetos. Ao mesmo tempo, permite que o agente público, grande contratante e hoje totalmente partidarizado, trabalhe sem planejamento, corpo técnico qualificado e crie falhas nas licitações para facilitar os “ajustes” de contrato.
Para o professor, só existirá luz no fim do túnel se houver uma real evolução nas especificações e mudanças significativas nas diretrizes de contratação e operação das obras. “Questionar e repensar isso tudo, talvez seja uma das maiores contribuições desta edição do Congresso Brasileiro de Túneis. Rever as necessidades de planejamento e gestão, discutir a visão estratégica da infraestrutura por parte do estado, a importância de projetos bem elaborados para minimizar as incertezas e as margens para a corrupção, a prioridade da gestão de risco adequada em obras subterrâneas, a real avaliação dos riscos de acidentes de engenharia e sua ligação com licitações mal feitas e redução de custos, e tantas urgências da nossa realidade atual.”
Uma mesa redonda também coordenada pelo professor André Pacheco de Assis, aprofundou a discussão com a presença de expoentes da engenharia Brasileira como o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos , ex diretor do IPT, Argimiro Alvarez Ferreira, da diretoria técnica do Metrô de São Paulo , professor e presidente da Ita Tarcisio B Celestino e Dante Venturini de Barros, atual diretor de Engenharia e Infraestrutura da Odebrecht.
Entre outras diretrizes sugeridas está a reavaliação da lei de licitações 8666, que estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras e serviços. ”Temos que sair da zona de conforto, do casulo e informar de maneira clara que não é apenas o tipo de contrato que garante o sucesso ou insucesso das obras. É muito , mas muito mais que isso, diz Álvaro Rodrigues dos Santos.” Caso contrário, diz o geólogo, vamos continuar a sofrer as consequências de uma política que não fizemos. E se não fizermos outros farão novamente”
O congresso teve ainda na mesa de abertura, a presença do Diretor de Engenharia e Construção do Metrô de São Paulo, Paulo Meca, o diretor executivo do DNIT Halpher Luigi, o Secretário Estadual dos Transportes Clodoaldo Pelissione , do presidente da ITA Tarcisio B Celestino, do presidente do CBT – Comitê Brasileiro de Túneis Werner Bilfinger, do presidente da ABMS – Associação Brasileira de Mecânica de Solos Alessander Kormann e Hugo Cássio Rocha, presidente da comissão organizadora do 4º CBT .
4ºCongresso Brasileiro de Túneis e Estruturas Subterrâneas
Seminário Internacional Latin American Tunneling Lat 2017
9thInternational Symposium on Geothecnical Aspects of Underground Construction in Soft Ground- TC-204 ISSMGE
Data: 3 a 5 de abril de 2017
Local: Centro de Convenções Rebouças
Endereço: Av. Rebouças, 600. (Entrada para pedestres pela Av. Dr Enéas de Carvalho Aguiar, 23)