Lineu Azuaga Ayres da Silva, professor titular da Universidade de São Paulo até 2013, é o quarto entrevistado na série de reportagem “Túneis e Estruturas Subterrâneas – o pensamento e a pesquisa das universidades brasileiras”. Hoje aposentado, Lineu é professor no curso de pós-graduação da Escola Politécnica da USP. Ele é um dos mais importantes especialistas brasileiros em Mecânica das Rochas. Foi responsável por ministrar disciplinas como Abertura de Vias Subterrâneas, Suportes em Mineração, Perfuração e Desmonte de Rochas e Estabilidade de Taludes em Mineração. É o atual presidente do Comitê Brasileiro de Mecânica das Rochas da ABMS. Para ele, “estudos de investigação têm sido deixados em segundo plano. Isto é uma displicência”. Leia a reportagem completa.
Muitos estudos importantes não estão sendo feitos no momento do projeto de túneis e minas no Brasil, segundo Lineu Ayres da Silva. A consequência disto, entre outras, é a elevação no custo final do empreendimento. “As surpresas vão aparecer na hora da execução”, lembra o professor. “Pode parecer uma economia no projeto, mas o preço de reparar os problemas não previstos é muito mais alto”.
Outra consequência da falta de investigação está nas universidades. “Na USP, temos um excelente laboratório de Mecânica das Rochas – que já foi o melhor do Brasil. O que acontece hoje, no entanto, é que as atividades andam bem devagar. Isso se deve, entre outras coisas, à baixa demanda por parte dos profissionais. Ou seja, se não há estudos, investigação, há menos atividades nos laboratórios”.
“É fundamental que a engenharia se conscientize que precisamos aplicar um pouco mais do que vem sendo aplicado na teoria das disciplinas envolvidas, principalmente na parte de investigação”, afirma o professor. “Precisamos incentivar os profissionais a se valerem dessas ferramentas que estão à disposição”.
O mercado de túneis
Para Lineu, o crescimento na construção de obras subterrâneas será um movimento natural no Brasil. “A necessidade de túneis está associada ao desenvolvimento do país”, explica. “Conforme vai crescendo a demanda por transporte e infraestrutura, cresce também a necessidade dos túneis”.
A mineração é um bom exemplo deste movimento natural. Atualmente, são centenas de minas a céu aberto no Brasil e apenas cerca de 75 subterrâneas. “À medida em que forem se esgotando os minérios disponíveis na superfície, teremos de fazer minas subterrâneas para continuar extraindo estes minerais. Acredito que o mesmo aconteça na construção civil”.
O professor dá como exemplo a estrada que liga a cidade de São Paulo ao litoral paulista. “A primeira ligação não tinha nenhum túnel. Depois, a Rodovia Anchieta veio com dois túneis. Mais para frente, chegou a Rodovia dos Imigrantes, com 14 túneis. Hoje, a descida para o litoral tem oito quilômetros de túneis no trecho de serra. É uma evolução natural”.
Lineu Ayres da Silva acredita que a engenharia tuneleira do Brasil está preparada para atender à demanda futura por túneis. “Não tenho dúvidas disso. Só ressalto, mais uma vez, a necessidade de mais investigação”.
Comitê Brasileiro de Túneis
“O CBT tem tido uma atuação bastante ativa, promovendo congressos, workshops, encontros, discussões. O Comitê está bastante ativo e isso ajuda a divulgar as tecnologias e elevar o nível dos profissionais da área. A entidade está, dessa forma, cumprindo muito bem a sua função”, sustenta Lineu Ayres da Silva.