Graduado em Engenharia de Minas, Metalurgia e Civil pela Escola de Minas de Ouro Preto, Geraldo de Almeida Fonseca iniciou sua carreira em 1951. Agora em 2021 ele irá comemorar 70 anos de uma carreira integralmente dedicada às obras subterrâneas. O início dessa longa trajetória aconteceu na Hidrelétrica de Salto Grande. Sua principal atividade nesse projeto foi participar da execução de cerca de dois e meio quilômetros de túneis e galerias auxiliares, de um total de sete.
Até 2017, seu currículo já somava mais de 50 túneis hidrelétricos, ferroviários, rodoviários e urbanos. Atualmente, Fonseca trabalha com consultoria, projeto e gerenciamento de obras subterrâneas pela empresa da qual é proprietário, a GFonseca Engenharia de Túneis.
Em sua formação como tuneleiro, Fonseca lembra de dois profissionais que o mais influenciaram. Custódio Braga Filho, que o convidou, ainda recém-formado, para trabalhar na Hidrelétrica de Salto Grande, e Homero Schettino, que orientou o seu trabalho naquela obra.
Mas, mesmo com todo o sucesso profissional, o engenheiro gostaria de ter tido a oportunidade de dirigir uma hidrelétrica de grande porte que, para ele, “é a obra de maior vulto da engenharia mundial”.
Para contar a trajetória do engenheiro, foi lançado o livro digital “História de uma Longa Vida – Geraldo de Almeida Fonseca”. Faça aqui o download.
O maior desafio da carreira
A execução do Túnel do Taquaril foi a obra mais desafiadora em que atuou. “Era um túnel em rochas metamorfoseadas do Quadrilátero Ferrífero, com a presença de filitos grafitosos, dolomitos argilosos, quartzitos fraturados transformados em cascalho e xistos cavernosos. O túnel tinha apenas três metros de diâmetro e estava sujeito a grandes pressões do lençol freático”, lembra.
A obra contou com a consultoria de Antonio Costa Nunes, um dos maiores geotécnicos brasileiros. “O professor Costa Nunes nos indicou uma obra de geologia semelhante na Usina de Roseland, na França. Seguindo a metodologia francesa, aplicamos pela primeira vez no Brasil, e talvez tenha sido última, uma solução aquosa de silicato e bicabornato de sódio em mistura para bloquear a pressão freática. A mistura formava um gel sem resistência, intensificada com injeção de aguada de cimento a pressões de até 7 kg/cm² para conter a avalanche das rochas decompostas”.
Geraldo Fonseca destaca ainda o alteamento de dois metros e o alargamento de um metro no Túnel da Mantiqueira, ligação ferroviária de Passa Quatro em Minas e Cruzeiro em São Paulo, sem paralisação de tráfego entre 7h e 15h. “Considero este o meu segundo maior desafio profissional”, afirma o tuneleiro. “Desta vez, por conta de muita responsabilidade técnica”.
Crescimento profissional
Uma viagem à Áustria para um simpósio em homenagem a Ladislaus Von Rabcewicz, criador do NATM foi, para Fonseca, a maior oportunidade de desenvolvimento profissional. Contratado posteriormente, Rabcewics foi a Belo Horizonte ministrar, durante uma semana para os engenheiros de túnel, os princípios técnicos que nortearam a conclusão de seus estudos empíricos. O método NATM foi implantado nos países da Europa e sucessivamente no mundo inteiro. No Brasil, o método foi empregado pela primeira vez em São Paulo, na Rodovia dos Imigrantes.
CBT e ABMS
Geraldo Fonseca é associado CBT e ABMS. Para ele, a atenção que ambas as entidades dispensam à evolução mundial da geotecnia é de suma importância para a engenharia nacional. Fonseca acompanha, até hoje, as principais conferências e simpósios organizados pelo CBT e pela ABMS.
No CBT, Geraldo Fonseca teve algumas das obras das quais participou destacadas no livro Túneis do Brasil, que apresenta as principais obras subterrâneas construídas no país desde meados do século XIX. Exemplos de obras que tiveram a participação de Fonseca e constam do livro são: a hidrelétrica de Salto Grande, a adutora Taquaril no Rio das Velhas, os túneis do Ramal Ferroviário Fazenda Alegria-Fábrica Ferteco e os túneis Contorno de Sabará e Marembá do ramal Capitão Eduardo-Costa Lacerda.
Uma palavra aos jovens tuneleiros
“Auguro aos novos engenheiros um futuro brilhante na retomada do desenvolvimento econômico e tecnológico da engenharia tuneleira nacional”, afirma Geraldo Fonseca. “E acredito que o Comitê Brasileiro de Túneis pode contribuir muito na direção dos grandes empreendimentos metroviários nacionais que virão, com a constante programação de eventos para troca de experiências e conhecimento das melhores práticas e técnicas”.