Projetado para revolucionar a conexão entre Escandinávia e Europa Central, o Fehmarnbelt será o túnel imerso mais longo do mundo. Com cerca de 18 quilômetros de extensão, ele ligará Rødbyhavn, na ilha dinamarquesa de Lolland, a Puttgarden, na ilha alemã de Fehmarn, atravessando o estreito de mesmo nome sob o Mar Báltico. A obra começou em 2020 e tem conclusão prevista para 2029.
Leia a matéria e assista à entrevista em vídeo com Klaus Rieker, membro do conselho executivo Associação Internacional de Túneis (ITA), que participou do 6º Congresso Brasileiro De Túneis e Estruturas Subterrâneas realizado em março deste ano.
Puttgarden em março de 2025. Foto: Sund & Bælt
A ligação entre Dinamarca e Alemanha foi oficializada em 2008 por meio de um tratado entre os dois países, ratificado no ano seguinte. O projeto integra o Corredor Escandinavo-Mediterrâneo da União Europeia e tem como objetivo eliminar gargalos logísticos, encurtar distâncias e acelerar o transporte ferroviário e rodoviário de cargas e passageiros na região.
As obras começaram em solo dinamarquês em 2020, com a preparação do canteiro e a construção da fábrica de elementos do túnel. No lado alemão, os trabalhos em campo iniciaram em 2021, com escavações para o portal e preparação da infraestrutura de acesso.
Rødbyhavn em março de 2025. Foto: Sund & Bælt
O túnel será composto por 79 elementos padrão com 217 metros de comprimento cada e peso de aproximadamente 73 mil toneladas, além de 10 elementos especiais que abrigarão sistemas elétricos e mecânicos. Todos os elementos estão sendo produzidos em uma fábrica dedicada em Rødbyhavn.
Com quatro faixas de rodagem (duas em cada sentido) e duas vias férreas eletrificadas, o túnel será dividido em seções isoladas, cada uma em um tubo separado, para garantir segurança e eficiência. O processo construtivo envolve a imersão de cada elemento no leito marinho, seguido de acoplamento e selagem com pressão hidráulica e preenchimento com cascalho e pedras para estabilidade.
Ilustração: Sund & Bælt
Uma das maiores inovações do projeto é a fábrica de elementos, localizada em uma área equivalente a 300 campos de futebol. A logística foi pensada para evitar o transporte terrestre de grandes volumes: dois portos industriais foram construídos para facilitar a chegada de materiais e o deslocamento dos segmentos até o mar.
O leito do túnel, com profundidade média de 12 metros e largura de 100 metros, foi escavado entre 2021 e 2024. Parte do material escavado está sendo reaproveitado para a criação de 300 hectares de áreas naturais e recreativas na costa dinamarquesa.
Com orçamento estimado em €7,4 bilhões (valor de 2015), o Fehmarnbelt é financiado integralmente pela Dinamarca, com apoio da União Europeia. O modelo de financiamento prevê a amortização ao longo de 28 anos, com retorno via pedágios rodoviários e tarifas ferroviárias. A obra é considerada prioritária pela Comissão Europeia dentro do plano de integração continental.
Além do impacto logístico, o projeto carrega um forte componente ambiental. O túnel substituirá a travessia por balsa e evitará um desvio de 160 km para caminhões e trens, o que implica significativa redução de emissões de CO₂.
A operação do túnel será neutra em carbono, graças ao uso de energia 100% renovável, reflorestamento e sistemas de alta eficiência energética. O projeto também prevê infraestrutura para veículos verdes e uso de combustíveis alternativos nos canteiros de obra.
O Fehmarnbelt vai reduzir drasticamente o tempo de travessia entre Dinamarca e Alemanha: serão apenas 7 minutos de trem ou 10 minutos de carro, ante os 45 minutos atuais da balsa (sem contar embarque e espera). A viagem entre Hamburgo e Copenhague será encurtada de 5 horas para cerca de 2 horas e meia.
Ilustração do portal em Rødbyhavn. Imagem: Sund & Bælt
A obra mobiliza mais de 3.500 trabalhadores de 40 países no lado dinamarquês, e outros 200 no canteiro alemão. Uma “cidade do túnel” com alojamentos, refeitório e áreas de convivência foi criada para acomodar os operários.
A grandiosidade da obra e a complexidade técnica envolvida fazem do Fehmarnbelt um símbolo da engenharia internacional contemporânea, assim como o Eurotúnel há 30 anos. E tal como aquele, a construção reforça o valor da cooperação binacional para superar os limites geográficos com soluções sustentáveis e duradouras.
O Brasil também planeja uma ligação subaquática por túnel imerso entre as cidades de Santos e Guarujá, no litoral de São Paulo, cruzando o canal do estuário portuário com o uso de elementos pré-moldados. Embora o projeto brasileiro seja mais curto, os desafios técnicos e logísticos são semelhantes, e a experiência europeia pode servir como referência valiosa para a execução segura e eficiente dessa nova conexão.
Confira a entrevista com Klaus Rieker, que comentou sobre a construção de túneis subaquáticos durante o 6º Congresso Brasileiro De Túneis e Estruturas Subterrâneas.
Fonte das informações: femern.com